A posição interpretacionista postula que as explicações comuns que damos ao comportamento dos seres humanos não podem ser substituídas pelo vocabulário da neurociência. Os filósofos Donald Davidson e Daniel Dennett, embora sejam monistas, afirmam que atribuir às pessoas desejos, intenções e pensamentos é uma condição necessária para compreendê-las. Considere essas situações colocadas por Dennett:
“Imagine assistir a alguém pegando maçãs e não ter menor idéia do que ele está fazendo. Imagine perceber duas crianças disputando o mesmo ursinho de pelúcia e não ocorrer a você que as duas o querem.”
(DENNET, D. The intentional instance. MIT Press, 1989, p. 8)
Nesses casos, tratar-se-ia de um indivíduo que, embora consciente de objetos ou eventos físicos, não compreende ou leva em conta estados ou processos mentais. O que seria o mundo social para esse indivíduo? Como ele compreenderia os outros seres humanos, suas ações, seus pensamentos ou desejos? Como ele compreenderia seus próprios pensamentos?
O que importa notar é que em geral, o comportamento é interpretado à luz de estados mentais como desejo, crença, intenção e assim por diante. Esse é o modo comum pelo qual os seres humanos se entendem entre si. Sem esta perspectiva, torna-se difícil haver uma explicação em termos de qualquer motivo ou razão. Para alguém incapaz de interpretar os movimentos corporais por meio de estados mentais, a ação e toda a vida mental das pessoas permaneceriam um verdadeiro mistério.
Para o filósofo Daniel Dennett, quando estamos diante da tarefa de explicar o comportamento de um sistema complexo, adotamos a chamada postura intencional. A postura intencional implica a atribuição de estados mentais, particularmente o desejo e a crença que podem explicar a ação.
Nesse sentido, a adoção de uma postura eliminativista na tentativa de predizer o comportamento de seres humanos seria menos errada do que penosa. Suponhamos que alguém queira interpretar um comportamento simples como beber um copo d’água. Seria extremamente difícil lidar com tantos estados físicos envolvidos nessa ação. Teríamos que fazer uma lista não só de estados cerebrais, mas também de movimentos corporais, determinados músculos e articulações envolvidos nessa ação. Em suma, a tarefa poderia ser enorme. Claro que em determinados contextos, por exemplo, de pesquisa científica, o eliminativismo pode ter todo sentido. Mas, ao menos no contexto cotidiano, não é fácil mostrar a razão pela qual devemos abandonar a postura intencional. Realmente, parece muito mais fácil explicar a ação através de um desejo como a sede e de um pensamento de que beber um copo d’água é um meio de matar a sede. Para Dennett, quando o que está em questão é fornecer razões para o comportamento humano, não parece haver expedientes explanatórios tão eficazes quanto esse.
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