quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Análise dos métodos e técnicas didáticos utilizados no processo educacional da sociedade hoje a partir da maiêutica socrática, da dialética platônica e dos métodos de aprendizagem Vygotskyano. Por meio da “A Republica, Alegoria da Caverna”

1. INTRODUÇAO

Ao analisar os processos educacionais da sociedade atual, percebe-se uma forte relação com a filosofia antiga, pois não existe nada na atualidade que não tenha sido pensado pelos gregos. Assim tomamos como objeto desta monografia à maiêutica socrática, a dialética e a educação platônica comparando-as com as teorias contemporâneas, especificamente com a de Vygotsky.

O dialogo foi o método por excelência adotado por Sócrates para transmitir suas idéias. Daí resulta a palavra “dialética”. Dentro deste contexto, dialético é aquele que está aberto ao dialogo, a um dialogo vivo e livre. Nessa forma peculiar de ensinar socrático, o papel do educador é muito mais o de perguntar e inquirir do que o de responder ou contestar.

O método socrático, baseado no dialogo, se dá em duas etapas: a ironia e a maiêutica. Na primeira, Sócrates tinha a pretensão de evidenciar as contradições presentes nos discursos de seus discípulos, repletos de conteúdos vagos e vazios. Sócrates fazia uso da ironia para bombardear nos discípulos o orgulho e a arrogância do saber. O objetivo de Sócrates não era de destruir a filosofia anterior a ele, mas trazer aos seus discípulos uma consciência própria, ou seja, uma busca de suas próprias respostas e imprecisões sobre determinados assuntos filosóficos. Depois de se libertar do orgulho e de toda pretensão, os discípulos eram capazes de construir suas próprias idéias, e conseqüentemente, rever onde se errara, corrigindo-as. Essa segunda etapa Sócrates chamava de maiêutica, arte de parto ou de trazer á luz. Sócrates traz para a filosofia um exemplo baseado na sua experiência familiar, pois sua mãe era parteira. Assim como a mãe trazia crianças ao mundo, Sócrates ajudava seus discípulos a extrair o conhecimento.

A dialética platônica tem como objetivo, o dialogo com a vida. A dialética é a esfera da vida. A educação platônica implica na aprendizagem do homem através de perguntas sobre a vida, na vida e com a vida. Assim a vida também nos traz perguntas, o homem não apenas pergunta sobre a vida mais também encontra respostas nela própria. Nesta perspectiva, aparece a pergunta pelos sentidos. Desta forma não somos nós que perguntamos pelos sentidos da vida, mas a própria vida que nos indaga a respeito da qualidade como nós vivemos.

A educação do homem em Platão é marcada por duas tríades: uma composta de mente, vontade e coração e uma tríade trágica marcada pelo sofrimento, culpa e morte, essas duas tríades floresce no homem um caminho a ser tomado em busca do conhecimento. O ser humano na crueza de seu ser, se percebe como um eu que não está pronto. Vive sua vida em um reino de possibilidades de um eterno vir a ser.

A vida do homem, antes de mais nada, se apresenta como um encontro. Essa possibilidade aberta ao homem nós a chamamos de educação.

A idéia de educação para os gregos representava o sentido de todo esforço humano. Era a justificação ultima da comunidade e individualidade humanas”. (JAEGER, Werner. 1995)

A educação para os gregos se volta no próprio homem onde apenas ele em sua individualidade e convivência social passa a estabelecer um laço com a educação, ou seja, o homem aprende depois de buscar em si mesmo e no outro o conhecimento possível de todas as coisas.

Perante tal situação percebemos que o processo educacional hoje consiste em despejar conhecimento técnico nos alunos, onde a questão da sobrevivência se adapta a condição capitalista e o conhecimento crítico seja deixado de lado. Assim os jovens se tornam escravos do sistema, fazendo com que seu conhecimento crítico e questionador não sejam demonstrados, e os mesmos, se tornem “cidadãos” que nem mesmo tem o conhecimento de seus direitos e deveres na sociedade onde vivem. Desta forma os alunos passam a ser uma arma usada pela corrupção que transforma o jovem em um objeto de uso privado, por não saberem nem mesmo se manifestarem quanto aos seus direitos.

Com toda a evolução que está acontecendo no mundo, o progresso da ciência, a grande performance das tecnologias , será que a escola com seus educadores e métodos também evoluíram ?

A educação tem que mudar e acompanhar a evolução diária, pois não podemos concordar com métodos obsoletos, onde o educador tem seu trabalho apenas como entregador de conhecimentos e informações aos seus alunos, repetindo o que está nos livros ou simplesmente escrevendo na lousa. Antigamente nossos alunos nos solicitavam apenas para instruir, atualmente exigem muito mais de nós, pois temos que ajudá-los a descobrir coisas, prepará-los para saber e fazer, e mostrar como o conhecimento está ligado em sua vida no dia-a-dia, e como utilizá-lo. Hoje, não basta ao educador ser um bom docente, ele tem que ser um diagnosticador, um comunicador, um companheiro e um solucionador. O Conceito de Educação é um conceito difícil de definir, tendo sofrido alterações ao longo dos tempos. Na antiguidade os fatos eram transmitidos pela sua demonstração, cativando deste modo à atenção dos alunos. Mas com o aumento de informações, e também de pessoas sedentas de informação, não se soube encontrar um método de ensino capaz de transmitir os fatos com uma componente prática, chegando-se ao atual estado de ensino teórico e rígido.

Em nossa sociedade contemporânea, cada vez mais as pessoas trabalham com produção de conhecimento, isso significa estar construindo seu conhecimento individual passo a passo, como construiu uma casa, tijolo por tijolo, parede por parede .A escola e seus educadores têm que criar métodos e formas para transmitir o conhecimento de uma forma que seus alunos possam entender os princípios profundos de todas as matérias e sintam vontade de aprender. O educador, bem como a escola, deve estar atento para adotar métodos didáticos envolvendo novas tecnologias, criando novos conteúdos e se possível definindo parcerias com a comunidade.

O conhecimento na vida do homem surge nos primeiros momentos de sua existência. A partir do nascimento a criança começa seu autoconhecimento, de si e do mundo e assim com sua evolução , o ser humano busca o conhecimento em toda a sua existência , tanto no aspecto de sobrevivência quanto em relação de homem dentro da sociedade . O educador deve estar bem preparado e sempre aprimorando os seus conhecimentos, métodos e técnicas que devem ser utilizadas como instrumento de educação, para que a mesma não se torne apenas descarga de conteúdo , e sim de uma descoberta que possa levar o aluno a querer conhecer. O conhecimento está presente em todos os aspectos de nossas vidas , tanto na esfera profissional , quanto cotidiana , afetiva , religiosa , enfim em todas as áreas de vivência do ser humano. A educação não se torna apenas um produto cientifico, mas também uma questão de transformação do ser humano.

O processo educacional tem grande importância na vida do homem , pois ele tem que enfrentar a realidade natural , formar conceitos , regras , valores . A educação parte do preceito em que, o homem deve intervir na realidade com intenção de construir e aprimorar seus conhecimentos. Enfrentar a realidade natural e tentar romper a adaptação, ao observar e questionar a natureza, o homem forma conceitos, e a partir destes com os demais seres humanos praticando-os, aparece a “cultura”. A cultura surge em uma conexão do humano com o mundo que resulta em produtos culturais; produtos os quais são criados a partir da intervenção do homem e a realidade e ela a nós. Por isso os ideais da cultura são os valores por nós criados para a existência humana, quando os inventamos, estruturamos uma realidade para nós.

A necessidade de o homem intervir na natureza, com a intenção de construir e aprimora-la, o papel da educação se torna primordial, e com ela surge à necessidade de analisar os métodos e técnicas aplicadas para que aprendizagem seja eficaz. Pois o conhecimento não é algo mágico ou transcendental é uma construção constante feita pelo ser humano.

“Toda ação humana tem em vista um objetivo, explicito ou não. A capacidade de concepção do resultado a ser produzido, antes de sua concretização material, é uma faculdade essencialmente humana. É a partir da concepção do objetivo na sua mente, que o homem tem condições de acionar os meios mais adequados para atingi-lo. Esse aspecto é fundamental no processo da atividade humana, já que permite ao homem deter o controle sobre o processo e o produto do seu trabalho.” (MARTINS, Pura Lúcia Oliver. 1989)

O educador tem que optar pela escolha de métodos de técnicas para que o interesse pelo conhecimento seja despertado no aluno. Procurando sempre o aprimoramento do método para que o conhecimento seja sempre o alvo e a busca do ser humano em todos os aspectos.

1.1 SÓCRATES

Sócrates, em grego Σωκράτης [Sōkrátēs], (470 a.C.399 a.C.) foi um filósofo ateniense e um dos mais importantes ícones da tradição filosófica ocidental e um dos fundadores da atual Filosofia Ocidental. A fonte mais importante de informação sobre Sócrates é Platão. Os diálogos de Platão retratam Sócrates como professor que se recusa a ter discípulos, e um homem piedoso que foi executado por causa da conveniência de seu próprio Estado. Sócrates não acreditava nos prazeres dos sentidos, todavia se interessava pela beleza. Dedicava-se à educação dos cidadãos de Atenas, mas era indiferente em relação a seus próprios filhos.

O julgamento e a execução de Sócrates foram momentos importantes em sua vida e são eventos centrais da obra de Platão. Sócrates admitiu que poderia ter evitado sua condenação (beber o veneno chamado cicuta) se tivesse desistido da filosofia. Mesmo depois de sua condenação, ele poderia ter evitado sua morte se tivesse escapado com a ajuda de amigos. A razão para sua cooperação com o Estado e com seus próprios valores mostra uma valiosa faceta de sua filosofia, em especial aquela que é descrita nos diálogos com Críton.

Sócrates conviveu com o povo ateniense do século V a.C., durante os anos de ouro da civilização grega, ensinando seus métodos e suas preocupações. Ele é, sem dúvida, um divisor de águas para a filosofia antiga, sobretudo pelo fato de situar seu campo de especulações não mais na cosmovisão, como faziam os filósofos pré-socrático, nem na natureza, mas na natureza humana e em suas implicações ético-sociais. Desenvolveu uma linha de raciocínio autônoma e originária que se voltasse contra o despotismo das palavras que se havia instaurado nesse período da história grega, sobretudo pela força da atuação dos sofistas.

Ele se utilizava do método maiêutico, baseado na ironia e no diálogo, o qual tinha como finalidade dar discussão à novas idéias. Isso por que todo erro é fruto da ignorância, e toda virtude é conhecimento: conceber novas idéias é dever primordial de um filósofo, a fim de despertar o desejo de conhecimento nas almas. Daí decorre reconhecer que a maior luta humana deve ser travada pela educação e que é uma das maiores virtudes reconhecer que nada se sabe.

Para ele, a obediência à lei era o limite entre a civilização e a barbárie, já que a lei continha as idéias de ordem e coesão que garantia a existência e a manutenção do corpo social.

Seu pensamento é profundamente ético, revestindo-se, em todas as suas direções, de preocupações ético-sociais, envolvendo-se em seu método maiêutico todo tipo de especulação temática. É do convívio, da moralidade, dos hábitos e práticas coletivas, das atitudes do legislador, que surgem os temas da filosofia socrática. Pode-se até mesmo dizer que o modo de vida socrático e a filosofia socrática não se separam., pelo contrário, a filosofia socrática reafirma-se pelo exemplo de vida de Sócrates.

Sócrates pode ser dito como o iniciador de uma filosofia moral e o inspirador de toda uma corrente de pensamento; sua contribuição surge como uma forma de antagonismo aos sofistas, pensadores da verve vocabular e do relativismo das coisas e que cobravam pagamento para aqueles requeressem seus ensinos, assistindo às suas palestras e à cosmologia filosófica dos pré-socráticos, que especulavam à respeito da natureza e de tudo ligado à cosmologia. Por isso ele é considerado uma referência primordial na filosofia grega, pela ruptura que provocou com a tradição precedente e com os ensinos predominantes do seu tempo.

Para Sócrates, o conhecimento encontra-se no próprio interior do homem, então, conhecendo-se a si mesmo, pode-se conhecer melhor o mundo.

O ensinamento ético de Sócrates reside no conhecimento e na felicidade. Para saber julgar acerca do bem e do mal, é necessário conhecimento, este sim verdadeira sabedoria e discernimento. O conhece-te a ti mesmo é o mandamento que inscreve como necessária à “gnose” interior para a construção de uma ética sólida. A felicidade, a busca de toda ética pouco tem a ver com a posse de bens materiais ou com o conforto e a boa situação entre os homens; tem ela a ver com o que é valorizado pelos deuses, pois estes parecem ser os mais beatos dos seres. O cultivo da verdadeira virtude, consistente no controle efetivo das paixões e na condução das forças humanas para a realização do saber, é o que conduz o homem à felicidade.

1.2. PLATÃO

Platão nasceu em 428-7 a.C. e morreu em 348-7 a. C. Essas datas são bastante significativas: seu nascimento ocorreu no ano seguinte ao da morte de Péricles, seu falecimento deu – se dez anos antes da batalha de Queronéia, que assegurou a Filipe da Macedônia a conquista do mundo grego. A vida de Platão transcorreu, portanto, entre a fase áurea da democracia ateniense e o final do período helênico, sua obra filosófica representará, em vários aspectos, a expansão de um pensamento alimentado pelo clima de liberdade e de apogeu político.

Filho de Ariston e de Perictione, Platão pertencia a uma das mais tradicionais famílias de Atenas e estava ligado, sobretudo pelo lado materno, a figuras eminentes do mundo político. Sua mãe descendia se Sólon, o grande legislador, e era irmã de Cármides e prima de Crítias, dois dos Trinta Tiranos que dominaram a cidade durante algum tempo. Além disso, em segundas núpcias Perictione casara – se com Pirilampo, personagem de destaque na época de Péricles. Desse modo, se Platão em geral manifesta desapreço pelos políticos de seu tempo, ele o faz como alguém que viveu nos bastidores da encenação política desde a infância. Suas criticas a democracia ateniense pressupunham um conhecimento direto das manobras políticas e de seus verdadeiros motivos.

O grande acontecimento da mocidade de Platão foi o encontro com Sócrates. Na época da oligarquia dos Trinta Tiranos, os governantes haviam tentado fazer de Sócrates cúmplice na execução de Leon de Salamina, cujos bens desejavam confiscar. Sócrates recusou-se a participar da trama indigna e, evidentemente, deixou de ser visto com simpatia pelos tiranos. Mais tarde, já reinstaurado o regime democrático em Atenas, Sócrates foi acusado de corromper a juventude, por difundir idéias contrarias a religião tradicional, e condenado a morrer bebendo “cicuta”.

Platão compõe seus primeiros Diálogos, geralmente chamados “diálogos socráticos”, pois tem em Sócrates a personagem central. Entre esses diálogos esta a Apologia de Sócrates, que pretende reproduzir a defesa feita pelo próprio Sócrates diante da Assembléia que o julgou e condenou. Outros diálogos dessa fase constituem também defesas que Platão faz de seu mestre, mostrando que nem era ímpio nem pervertia os jovens. Nessa categoria podem ser incluídos Críton, Laquês, Lísis, Cámides e Eutífron. Dentre os primeiros diálogos situam-se Hípias Menor, Protágoras e Górgias.

Por cerca de 387a.C. Platão funda em Atenas a Academia, sua própria escola de investigação cientifica e filosófica. O acontecimento é da máxima importância para a história do pensamento ocidental. Platão torna-se o primeiro dirigente de uma instituição permanente, voltada para pesquisa original e concebida como conjugação de esforços de um grupo que vê no conhecimento algo vivo e dinâmico e não um corpo de doutrinas a serem simplesmente resguardadas e transmitidas.

Durante cerca de vinte anos, Platão dedica-se ao magistério e à composição de suas obras. Sob forte influência do pitagorismo, escreve os “diálogos de transição” , que justamente marcam, segundos muitos interpretes, o progressivo desligamento das posições originariamente socráticas e a formulação de uma filosofia própria, a partir da nova solução para o problema do conhecimento, representada pela doutrina das idéias: formas incorpóreas e transcendentes que seriam os modelos dos objetos sensíveis. Essas novas formulações aparecem em vários diálogos: Ménon, Fédon, Banquete, Republica, Fedro. No mesmo período a obra Eutidemo, que procura estabelecer a distinção entre dialética socrática e a herética, ou arte das discussões lógicas sutis e da disputa verbal, que se tornara a preocupação central da escola de Euclides de Megara.

A composição da série de diálogos constituída pelo Parmênides, Teeteto, Sofista e Político. Diálogos da plena maturidade intelectual de Platão , neles as primeiras formulações da “doutrina das idéias” (como, por exemplo, apareciam em Fédon) começaram a ser revistas e todo o pensamento platônico reestrutura-se a partir de bases epistemológicas mais exigentes e seguras. Ao mesmo tempo, as fronteiras entre o pensamento do próprio Platão e do seu mestre tornam-se mais nítidas , de tal modo que, em Parmênides, em lugar de Sócrates conduzir e dominar a discussão ele aparece jovem e inseguro diante de um Parmênides que , levantando dificuldades à teoria das idéias, deixa-o embaraçado. Costuma-se ver na inversão do papel atribuído a Sócrates nos diálogos o indicio de que o platonismo já avançou para alem das concepções socráticas , que o havia inicialmente inspirado.

Mas a crise que Parmênides parece instaurar na teoria das idéias não significa que Platão desiste dessa doutrina em Teeteto, a discussão sobre o problema do conhecimento e as criticas à identificação do conhecimento com sensação, posição que é aí atribuída ao sofista Protágoras de Abdera, levam à reafirmação de que o conhecimento verdadeiro não pode dispensar a fundamentação nas idéias: e é esse mundo de essências estáveis e perenes que o diálogo chamado Sofista investiga. Ao examinar as bases da distinção entre verdade e erro, apresenta aguda critica da atividade docente dos sofistas , acusados de criar e difundir imagens falsas, simulacros da verdade. Já o Político retoma as tese de que o ideal para a pólis seria a existência de um rei filosofo que inclusive pudesse governar sem necessidades de leis.

2. O CARÁTER DIALÉTICO USADO POR PLATÃO PARA BENEFÍCIO DA EDUCAÇÃO.

Na solução dos problemas filosóficos, Sócrates empregou o diálogo, que podia assumir a forma de ironia e maiêutica, uma série de questões tendentes a encaminhar a solução de quesitos propostos, mais adequado aos discípulos do que ao próprio pesquisador.

A dialética está presente em todas as obras de Platão, permitindo que num processo educativo todos os participantes do dialogo passam ter a oportunidade de se expressar e pensar. O filosofo é aquele que possui uma visão de conjunto. Somente ele é capaz de captar a unidade na multiplicidade.

“Quem sabe ver o conjunto é dialético, quem não sabe não o é.” (PLATÃO, 1996).

A trajetória da dialética tem como objetivo levar do sensível para o inteligível, passa do plano físico ao metafísico, aproximar a multiplicidade do sensível à unidade do inteligível. Uno e múltiplo se fundem e se juntam na síntese, possibilitando a unidade na multiplicidade. A busca da dialética platônica é contemplar as idéias supremas, ou seja, a abstração ultima da unidade absoluta. De todas as idéias a mais importante é a idéia de Bem.

O objetivo último da dialética é elevar-se a “nóêsis”, a ciência suprema. A incapacidade da maioria dos homens de ir além da opinião, e, alguns por meio da matemática chegam a “diánoia” o entendimento; mas somente o filosofo é capaz de chegar por meio da dialética à “nóêsis”, ou seja, a o pensamento intuitivo, iluminado diretamente pela idéia. O filosofo é dialético por excelência. A dialética é este procedimento que pelo qual o intelecto passa do sensível ao inteligível e vai de idéia em idéia até intuir a Idéia Suprema, ou seja, o Bem, o Uno, o incondicionado.

A dialética possui dois movimentos: um ascendente, outro descendente. O caminho ascendente possui um caráter de semelhança aos fatos narrados. Consiste em libertar-se dos sentidos e abstrair de idéia em idéia até alcançar a Idéia Suprema. O caminho ascendente, portanto, passa das idéias, hipóteses inferiores às superiores. Eis a afirmação de Platão:

“Quem não for capaz de definir com palavras a idéia do bem, separando-a de todas as outras, é, como se estivesse numa batalha, exaurindo todas as refutações, esforçando-se por dar provas, não através do que parece, mas do que é, avançar através de todas estas objeções com um raciocínio infalível – não dirás que uma pessoa nessas condições não conhece o bem em si, nem qualquer outro bem, mas, se acaso toma contato com alguma imagem, é pela opinião, e não pela ciência que agarra nela, e que a sua vida atual a passa a sonhar e a dormir, pois, antes de despertar dela aqui, primeiro descerá ao Hades para lá cair num sono completo ? (...) Mas se um dia tiveres de fato de educar na prática aquelas crianças que educas e instruir em palavras, não consentirás, segundo creio, que sejam como simples quantidades irracionais, se têm de governar a cidade e de ser senhores de altas instâncias”. (PLATÃO, 1996).

O outro caminho da dialética é o descendente, conhecido como diaírisis. Este caminho é oposto ao primeiro, ou seja, ele parte de idéia suprema, que busca a compreensão das partes do todo.

“- Aquele que assim é capaz discerne, em olhar penetrante, uma forma única desdobrada em todos os sentidos, através de uma pluralidade de formas, das quis cada uma permanece distinta; e mais: uma pluralidade de formas diferentes umas das outras envolvidas exteriormente por uma forma única, numerosas formas inteiramente isoladas e separadas; e assim sabe serem possíveis ou impossíveis.

- Perfeitamente.

- Ora, esse dom, o dom dialético, não atribuirás a nenhum outro, acredito, senão aquele que filosofa com toda pureza e justiça”. (PLATÃO apud TEIXEIRA, Evilázio, 1999).

Para Platão, o dom dialético leva o homem à descoberta da pluralidade de formas diferentes, ou seja, o homem é capaz de discernir os diversos tipos de conhecimentos através do dialogo, sendo que a idéia suprema é a fonte de uma descoberta das várias partes do todo.

A dialética platônica traz para os moldes educacionais uma nova forma de se pensar como atingir o pensamento do aluno, pois ao usar o método platônico, podemos perceber que o aluno ou o aprendiz se torna mais efetivo no que tange ao estudo ali realizado. Sabemos que a educação tem seus métodos e práticas, mas não fazem uso diretamente do método em que se usa pergunta e resposta para se chegar em um ponto comum, isso não quer dizer que o educador deva levar o aluno ao ponto em que ele apenas deseja mais a partir do dialogo possa fazer o aluno a usar seu conhecimento e seu raciocínio quanto ao assunto ali desenvolvido.

Vejamos como Platão através de Sócrates descreve na Apologia a devida forma de atuação quanto ao conhecimento:

Enquanto viver, não deixarei jamais de filosofar, de vos exortar a vós e de instruir quem quer que eu encontre, dizendo-lhe à minha maneira habitual: Querido amigo, és um ateniense, um cidadão da maior e mais famosa cidade do mundo, pela sua sabedoria e pelo seu poder; e não te envergonhas de velar pela tua fortuna e pelo seu aumento constante, pelo teu prestígio e pela tua honra, sem em contrapartida te preocupares em nada com conheceres o bem e a verdade e contornares a tua alma o melhor possível? E, se algum de vós duvidar disto e asseverar que com tal se preocupa, não o deixarei em paz nem seguirei tranqüilamente o meu caminho, mas interroga-li-ei, examiná-lo-ei e refutá-lo-ei; e se me parecer que não tem qualquer Arete, mas que apenas a aparenta, invectivá-lo-ei, dizendo-lhe que sente o menor respeito pelo que há de mais respeitável e o respeito mais profundo pelo que menos respeito merece. E farei isto com os jovens e com os anciãos, com todos os que encontrar, com os de fora e com os de dentro; mas sobretudo com os homens desta cidade, pois são por origem os mais próximos de mim. Pois ficai sabendo que deus assim mo ordenou, e julgo que até agora não houve na nossa cidade nenhum bem maior para vós do que este serviço que eu presto a Deus. É que todos os meus passos se reduzem a andar por aí, persuadindo novos e velhos a não se preocuparem nem tanto nem em primeiro lugar com o seu corpo e com a sua fortuna, mas antes com a perfeição da sua alma. (PLATÃO apud JAEGER, Werner, 1995, p. 526 – 527).

Nesta passagem acima Platão conta com Sócrates, que valoriza a filosofia como uma fonte de conhecimento inesgotável, e diz só parar de fazê-la após não ter mais sua vida. Pois para Sócrates o conhecimento é inesgotável, ou seja, o homem esta em uma eterna construção de sua vida intelectual até que a morte o prive de tal beneficio.

Segundo Platão fazer uso de interrogações, exames, e refutações a determinado assunto fazem parte do processo de aprendizagem de cada pessoa, pois é necessário haver uma forma mais apropriada de conhecer a verdade, e só se chega neste ponto através de um dialogo que contem todos os elementos lingüísticos citados acima. Assim torna necessária a educação a todas as pessoas de forma dialética, pois Sócrates dá um conselho interessante quando diz não deixar de dialogar com nenhum dos cidadãos atenienses mesmo correndo risco de ser julgado e morto pelos seus oponentes.

Somente por meio da oralidade dialética chega-se a verdade. A educação se da sempre por meio de um dialogo; portanto, num contexto social, que aparece no encontro de pessoas para discutirem as questões que nos leva ao conhecimento. Para Platão a educação esta presente sobretudo, no encontro social entre os cidadãos e através de um processo de aprendizagem deste meio. Segundo Giovanni Reale,“a dialética no seu sentido global leva à compreensão daquela coisa admirável, a saber, de como os muitos sejam um e o um sejam muitos. No seu grau máximo , ela é exatamente o conhecimento que o demiurgo (a inteligência suprema) possui de maneira perfeita”.

Platão foi o filosofo que mais aplicou os jogos de opostos, em plena perfeição, ou seja, perfeição é aquilo que o mesmo, conceberá como filosofia.

A educação dialética não é apenas colocar a serviço do educando determinadas ferramentas racionais que o ajudem a pensar e conhecer a verdade das coisas. A dialética tem um caráter de purificação da alma, portanto, educar o coração.

O diálogo na filosofia platônica nos remete ao modo incondicional e rigoroso da educação. Este no entanto, implica em educar por meio de uma relação de comunhão. É no encontro subjetivo e intersubjetivo que o mestre e discípulos aprendem juntos, educam-se.

O diálogo é um rompimento de uma idéia educacional, de que, alguém que sabe ensina a alguém que não sabe. Com o diálogo se pretende uma manifestação da vontade de fazer o outro melhor e de se fazer melhor, mais também se manifesta no interior da própria alma.

O intelecto humano se assemelha com um filtro ou uma lâmina, a qual, quanto mais fina, mais luz permite passar. E o modo pelo qual o homem deixa transparecer o seu interior é pelo diálogo, ou pela disputa dialética. É através do jogo de opostos que o homem vai dando conta de desvelar a realidade, tornando-a inteligível.

2.1. CONTRIBUIÇÃO DA FILOSOFIA SOCRÁTICA E PLATÔNICA HOJE NA EDUCAÇÃO

Sócrates deu uma imensa contribuição para a educação de hoje onde o indivíduo busca em si próprio uma forma de coerência com suas idéias. Tal contribuição foi com o método criado por ele chamado maiêutica. Pois o método é o caminho a seguir, para chegar à verdade nas ciências. Processo dialético e pedagógico socrático, em que se multiplicam as perguntas a fim de obter, por indução dos casos particulares e concretos, um conceito geral do objeto em questão.

Sob o ponto de vista da lógica, o Método representa o conjunto de processos que o espírito humano deve empregar para a investigação e a demonstração da verdade, tendo como finalidade disciplinar o espírito, excluir de suas investigações o capricho e o acaso, adaptar o esforço a empregar segundo as exigências do objeto e determinar o meio de investigação e a ordem da pesquisa.

A escolha do Método a se seguir não pode ser arbitrária e deve atender a natureza do objeto que vai ser aplicado e ao fim que se tem em mira.

O método socrático ajudaria na educação de hoje de forma direta, pois apenas com investigação, leva o aluno ao ponto de partida, de uma discussão que se pode ter um bom resultado investigativo. O caráter maiêutico de Sócrates é algo que leva a persuasão do individuo mais o ajuda a formular suas idéias e logo prestar mais atenção nos acontecimentos em sua volta, pois quando a pessoa passa a gostar de ter conhecimento, e passa a buscar ainda mais por ele, por isso, torna-se necessário à convivência com uma pessoa que tenha esse caráter persuasivo socrático no meio educacional.

Para Platão o mundo que conhecemos não é o verdadeiro, a realidade não esta no que podemos ver, tocar, ouvir, perceber, pois, a verdade para Platão é aquilo que não se modifica nunca é permanente, eterno. Existem dois mundos para Platão: o mundo sensível, que é aquele que pode perceber através das sensações a realidade aparente. E o principal que é o mundo das idéias, ou seja, apenas o nosso pensamento é capaz de atingir esse mundo proposto por Platão que é chamado de eterno e imutável.

“- Ora, o presente discurso demonstra que cada um possui a faculdade de aprender e o órgão destinado a esse uso e que, semelhante a olhos que só poderiam voltar das trevas para a luz com todo o corpo, esse órgão deve também afastar-se com toda alma do que altera, ate que se torne capaz de suportar a vista do ser e do que há de mais luminoso no Ser.

A isso denominamos o bem, não é verdade?

- É.

- A educação é, pois, a arte que se propõe este objetivo, a conversão da alma, e que procura os meios mais fáceis e mais eficazes de o conseguir. Não consiste em dar visão ao órgão da alma, visto que já a tem; mas, como ele está mal orientado e não olha para onde deveria, ela esforça;se por encaminhá-lo na boa direção”. (PLATÃO, 1996).

Esta passagem do livro VII da Republica de Platão nos leva a pensar as possibilidades de conhecimento através de uma educação dialética.

O método adotado por Platão para despertar o discípulo para o conhecimento é a Dialética através da qual são forjadas hipóteses, que são confirmadas ou rejeitadas até que o discípulo chegue ao conhecimento verdadeiro. Coerente com seu mestre Sócrates, Platão valoriza o diálogo como forma de purificar o conhecimento geralmente fragmentado e distorcido que o homem possui, ajudando-o a sair da “Caverna” em que se encontra. O método platônico em pleno exercício é exposto nos seus diálogos.

Essa é a tarefa do professor, ou seja, fazer com que o indivíduo desperte para o saber, em certo sentido, forçando-o a sair da condição de ignorância em que se encontra. Para ele o filosofar nasce do espanto, admiração diante do desconhecido e é através do diálogo orientado que o homem atinge o conhecimento filosófico.

Segundo Platão, Atenas negligenciava a educação da juventude, desinteressava-se e deixava-a nas mãos dos particulares. O estado deveria preocupar com a formação daqueles que seriam os futuros cidadãos.

Para ele, a educação deveria tornar-se algo público, os mestres deveriam ser escolhidos pela cidade e controlados por magistrados especiais. Platão defendia ainda que a educação deveria ser igual para “rapazes e raparigas”, mas só até aos seis anos. A partir desta idade teriam mestres e classes diferentes.

Pensar Platão hoje, é, pensar a educação como algo público a todos, como uma forma de transformação social que desenvolve tanto o próprio individuo como o próprio estado que ganha com o conhecimento adquirido de seu corpo social.

2.2. A ALEGORIA DA CAVERNA COMO MÉTODO EDUCACIONAL

Platão utiliza mitos, mas diferencia-se da origem da palavra “mito”. Originalmente, mito se refere a historias sagradas tidas como verdadeiras. Em Platão o mito assume um sentido de alegoria, ou como entendemos hoje, um sentido de metáfora. Por isso, o uso de mitos em Platão não significa um simples recuo ao mitológico, mas um recuo ao reflexivo.

Na obra de Platão “A Republica”, podemos deparar com um pensamento educacional por meio do célebre mito da caverna que nos diz em síntese o seguinte:

“Imaginemos homens que vivam numa caverna cuja a entrada se abra para a luz em toda sua largura, com um amplo saguão de acesso. Imaginemos que os habitantes dessa caverna tenham as pernas e o pescoço amarrados de tal modo que não possam mudar de posição e tenham de olhar apenas para o fundo da caverna. Imaginemos ainda que, imediatamente a frente da caverna, exista um pequeno muro da altura de um homem e que por trás desse muro e, portanto inteiramente escondidos por ele, se movam homens carregando sobre os ombros, estatuas trabalhadas em pedra e madeira, representando os mais diversos tipos de coisas. Imaginemos também que, por trás desses homens, esteja acessa uma grande fogueira e que , no alto, brilhe o sol. Finalmente, imaginemos que a caverna produza eco e que os homens que passam por trás do muro estejam falando de modo que suas vozes ecoem no fundo da caverna.

Se isso acontecesse, aqueles prisioneiros da caverna nada poderiam ver além de pequenas estatuas projetada no fundo da caverna e ouviriam apenas o eco das vozes. Entretanto acreditariam, por nunca terem visto coisa diferente, que aquelas sombras eram a única e verdadeira realidade e que o eco das vozes representasse as vozes emitidas por aquelas sombras. Suponhamos, agora que um daqueles prisioneiros consiga desvencilhar-se dos grilhões que o aprisionam. Com dificuldade, ele se habituaria à nova visão com a qual se deparava. Habituando-se, porém , veria as estatuetas moverem-se sobre o muro e compreenderia que elas são muito mais verdadeiras do que as coisas que antes via e que agora lhe parecem sobras. Suponhamos que alguém traga nosso prisioneiro para fora da caverna e do outro lado do muro. Primeiramente, ele ficaria ofuscado pelo excesso de luz; depois, habituando-se, veria as coisas em si mesmas; e , por ultimo , veria , inicialmente de forma reflexa e posteriormente em si mesma a própria luz do sol. Compreenderia, então, que essas e somente estas são as realidades verdadeiras e que o sol e a causa de todas as coisas visíveis”. (REALE, Giovanni, ANTISERI, Dario, 1990).

O homem nasce nesta condição de caverna e, portanto de ignorância. A tarefa do educador é de mostrar o caminho aos acomodados da caverna, para que estes superem seu estado de ignorância.

A partir desta perspectiva, a educação aqui consiste numa provocação e numa ocasião. O educador é aquele que provoca o educando, forçando para uma abertura do conhecimento. Toda abertura supõe uma reeducação: o abandono do mundo das sombras, das aparências, portanto da ignorância, para o mundo da realidade. Esse processo educativo poderá ser dolorido, mas ao mesmo tempo provoca mudanças no cotidiano intelectual do educando. A experiência humana mostra no entanto, aberta para novas realidades e mudanças, que por sua vez, não é tarefa fácil.

Contemplar a verdade dos objetos iluminados pela luz do sol exige um preço a ser pago: desacomodar-se.

O educador é aquele que cria ocasiões e possibilidades de superação e de conhecimento de seu educando. Toda ocasião tem um caráter terapêutico, que serve como remédio para ignorância. O conhecimento esta no deslumbramento, em uma vontade de conhecer a realidade das coisas, e esta vontade é a própria filosofia, que tem por si só uma determinada curiosidade de conhecer e de saber sobre a origem das coisas.

Na alegoria da caverna, a educação se mostra como conversão, que, no seu sentido original, é uma mudança de vida e de mentalidade. Mas a conversão não se dá do dia para noite. Ela é um processo educativo que demanda anos de aprendizado e de experiências possíveis ao ser humano. Ela é um volver da alma para a luz da idéia de bem, que é origem de tudo. Para Platão a educação do homem é algo que demanda tempo e paciência.

O processo educativo, portanto se inicia no interior da caverna, mas seu objetivo maior não é contentar-se em ver apenas objetos através da luz do fogo, e, sim, contemplá-los a luz do sol . O interior da caverna para Platão é o próprio corpo, pois é neste que se aprisiona a alma, más se libertar desta caverna leva o homem a um ideal, a um principio que é totalmente intelectivo, que é, passar a pensar e raciocinar sobre a origem das coisas, desta forma pode-se chamar de curiosidade. A alma, ou seja, o intelecto humano precisa percorrer um caminho até um “thelos”, e quando chegar a esse fim se encontrara com a razão, que é uma forma organizadora das idéias.

A experiência do prisioneiro na caverna mostra o que significa um processo educativo capaz de levar o homem a sua verdadeira condição.A educação tem o caráter elevativo, que faz com que o homem busque uma elevação intelectiva para o seu conhecimento. Portanto educar é ao mesmo tempo algo valoroso, mais também árduo, pois, é repleto de crises e por momentos de incertezas.

A crise é um tempo de provação e de provocação. Na crise, o homem é provocado a construir e a demolir. A provação é um ingrediente da condição humana.

A educação, representada na alegoria da caverna, possui, antes de mais nada, o papel de tirar o homem de seu estado de alienação. É dever do educador, libertar o homem do mundo das aparências e das imagens e conduzi-lo à visão do verdadeiro ser. Isso implica superar as concepções ilusórias da realidade, a fim de vislumbrar o verdadeiro mundo real, que é somente o das idéias. Educar consiste em ajudar o educando a ascender sempre para o alto, a fim de poder contemplar o mundo superior. A ascensão é no entanto, a caminhada da alma para a libertação, que leva o homem ao mundo inteligível, pois para Platão é neste mundo que se encontra a verdade e todas as possibilidades de conhecimento.

3. MÉTODOS DIDÁTICOS E DE APRENDIZAGEM SEGUNDO VYGOTSKY

As concepções de Vygotsky sobre o processo de formação de conceitos remetem às relações entre pensamento e linguagem, à questão cultural no processo de construção de significados pelos indivíduos, ao processo de internalização e ao papel da escola na transmissão de conhecimento, que é de natureza diferente daqueles aprendidos na vida cotidiana. Propõe uma visão de formação das funções psíquicas superiores como internalização mediada pela cultura.

As concepções de Vygotsky sobre o funcionamento do cérebro humano, colocam que o cérebro é a base biológica, e suas peculiaridades definem limites e possibilidades para o desenvolvimento humano. Essas concepções fundamentam sua idéia de que as funções psicológicas superiores (por ex. linguagem, memória) são construídas ao longo da história social do homem, em sua relação com o mundo. Desse modo, as funções psicológicas superiores referem-se a processos voluntários, ações conscientes, mecanismos intencionais e dependem de processos de aprendizagem.

A mediação é uma idéia central para a compreensão de suas concepções sobre o desenvolvimento humano como processo sócio-histórico é a idéia de mediação: enquanto sujeito do conhecimento o homem não tem acesso direto aos objetos, mas acesso mediado, através de recortes do real, operado pelos sistemas simbólicos de que dispõe, portanto enfatiza a construção do conhecimento como uma interação mediada por várias relações, ou seja, o conhecimento não está sendo visto como uma ação do sujeito sobre a realidade, assim como no construtivismo e sim, pela mediação feita por outros sujeitos. O outro social, pode apresentar-se por meio de objetos, da organização do ambiente, do mundo cultural que rodeia o indivíduo.

A linguagem, sistema simbólico dos grupos humanos, representa um salto qualitativo na evolução da espécie. É ela que fornece os conceitos, as formas de organização do real, a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. São por meio dela que as funções mentais superiores são socialmente formadas e culturalmente transmitidas, portanto, sociedades e culturas diferentes produzem estruturas diferenciadas.

A cultura fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade, ou seja, o universo de significações que permite construir a interpretação do mundo real. Ela dá o local de negociações nos quais seus membros estam em constante processo de recriação e ré interpretação de informações, conceitos e significações.

O processo de internalização é fundamental para o desenvolvimento do funcionamento psicológico humano. A internalização envolve uma atividade externa que deve ser modificada para tornar-se uma atividade interna, é interpessoal e se torna intrapessoal.

Usa o termo função mental para referir-se aos processos de: pensamento, memória, percepção e atenção. Coloca que o pensamento tem origem na motivação, interesse, necessidade, impulso, afeto e emoção.

A interação social e o instrumento lingüístico são decisivos para o desenvolvimento.

Existem, pelo menos dois níveis de desenvolvimento identificados por Vygotsky: um real, já adquirido ou formado, que determina o que a criança já é capaz de fazer por si própria, e um potencial, ou seja, a capacidade de aprender com outra pessoa.

A aprendizagem interage com o desenvolvimento, produzindo abertura nas zonas de desenvolvimento proximal (distância entre aquilo que a criança faz sozinha e o que ela é capaz de fazer com a intervenção de um adulto; potencialidade para aprender, que não é a mesma para todas as pessoas; ou seja, distância entre o nível de desenvolvimento real e o potencial ) nas quais as interações sociais são centrais, estando então, ambos os processos, aprendizagem e desenvolvimento, inter-relacionados; assim, um conceito que se pretenda trabalhar, como por exemplo, em matemática, requer sempre um grau de experiência anterior para a criança.

O desenvolvimento cognitivo é produzido pelo processo de internalização da interação social com materiais fornecidos pela cultura, sendo que o processo se constrói de fora para dentro. Para Vygotsky, a atividade do sujeito refere-se ao domínio dos instrumentos de mediação, inclusive sua transformação por uma atividade mental.

Para Vygotsky, a aprendizagem está relacionada ao desenvolvimento desde o inicio da vida humana:

“Um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas”. (VYGOTSKY,1984).

O percurso de desenvolvimento do ser humano é, em parte, definido pelos processos de maturação do organismo individual, pertencente à espécie humana, mas é a aprendizagem que possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento que, se não fosse o contato do individuo com um determinado ambiente cultural, não ocorreriam. Em outras palavras, o homem nasce equipado com certas características próprias da espécie, como por exemplo a capacidade de enxergar por dois olhos, que permite a percepção tridimensional, ou a capacidade de receber e processar informação auditiva, mas as chamadas funções psicológicas superiores, aquelas que envolvem consciência, intenção, planejamento, ações voluntárias e deliberadas, dependem de processos de aprendizagem. O homem é membro de uma espécie para cujo desenvolvimento a aprendizagem tem um papel central, especialmente no que diz respeito a essas funções superiores, tipicamente humanas.

Diretamente relacionada à ênfase dada por Vygotsky à dimensão sócio-histórica do funcionamento psicológico humano está sua concepção da aprendizagem como um processo que sempre incluiu relações entre indivíduos. Na construção dos processos psicológicos tipicamente humanos, é necessário postular relações interpessoais: a intenção do sujeito com o mundo se dá pela mediação feita por outros sujeitos. Do mesmo modo que o desenvolvimento não é um processo espontâneo de maturação, a aprendizagem não é fruto apenas de uma interação entre o individuo e o meio, A relação que se dá na aprendizagem é essencial para a própria definição desse processo, que nunca ocorre no individuo isolado.

A aprendizagem é, sim, um resultado desejável de um processo deliberado, explicito, intencional, a intervenção pedagógica é um mecanismo privilegiado.

A concepção de ensino-aprendizagem de Vygotsky inclui dois aspectos particulares relevantes para a presente discussão. Por um lado, a idéia de um processo que envolve, ao mesmo tempo, quem ensina e quem aprende não se refere necessariamente a situações em que haja um educador fisicamente presente. A presença do outro social pode se manifestar por meio dos objetos, da organização do ambiente, dos significados que impregnam os elementos do mundo cultural que rodeia o individuo. Dessa forma a idéia de alguém que ensina pode estar concretizada em objetos, eventos, situações, modos de organização do real e na própria linguagem, elemento fundamental nesse processo de aprendizagem.

3.1 METODOLOGIA E APRENDIZAGEM

Chama-se método didático àquele empregado com o fim de transmitir a outros, as verdades e os conhecimentos adquiridos, ou seja, os métodos aplicados à metodologia das diversas ciências.

A determinação dos objetivos do ensino é considerada elemento fundamental no processo de planejamento da prática educativa e constitui conteúdo obrigatório nos programas didáticos de cada profissional da área. Uma das maiores práticas das atividades docentes se da na preparação das atividades educativas.

As fontes didáticas podem ser também pesquisadas na própria vivência dos alunos, como o nível de desenvolvimento, de interesse e necessidade de aprendizagem.

A didática é a técnica de dirigir e orientar a aprendizagem; técnica de ensino, ou seja, é a forma com que o profissional da educação usa para se orientar na prática do ensino, desta forma a filosofia platônica se coloca muito bem em torno da dialética que seria uma forma usada para fazer com que o aluno, ou o ouvinte se situe e preste a atenção no conteúdo ali lecionado.

O método é o caminho pelo qual se atinge um objetivo, ou seja, na educação o objetivo a ser atingido é o conhecimento, a vontade de aprender, o amor pela sabedoria, a força de vontade de viver em pro da verdade, não que seja a verdade única mais uma busca constante da mesma para que a partir daí possamos a saber mais sobre todas as coisas existentes ao nosso redor no mundo.

Aprender quer dizer que podemos ter conhecimento de algo, onde nos tornamos aptos ou capazes de alguma coisa, em conseqüência de estudo, observação, experiência, advertência, etc. No entanto a aprendizagem é o ato ou o efeito de aprender alguma coisa, para nós é importante aprender com a própria viva, pois nesta com certeza aprendemos bastantes coisas importantes.

A educação deve contribuir para a autoformação da pessoa (ensinar a assumir a condição humana, ensinar a viver) e ensinar como se tornar cidadão. Um cidadão é definido, em uma democracia, por sua solidariedade e responsabilidade em relação a sua pátria. O que supõe nele o enraizamento de sua identidade nacional. (MORIN, Edgar, 2006).

Nesta passagem de Edgar Morin, vemos justamente o valor da aprendizagem como uma forma de valorizar a cidadania do individuo, ou seja, buscar com a educação a identidade de cada um. Isso quer dizer se encontrar como pessoa capaz de produzir conhecimento em pro de seu futuro da sua nação onde vive.

A distribuição adequada dos objetivos numa seqüência de aprendizagem, a descoberta das condições correspondentes para atingi-los e o estabelecimento de suas apropriadas inter – relações, formam a concepção de mundo e de valores que o homem deve tornar vivencial em sua vida.

4. CONCLUSÃO

A iniciação deste trabalho filosófico se deu através de uma preocupação em torno das questões educacionais dos dias de hoje. Desde o início assinalamos algumas formas pelas quais a educação deveria se apoiar, para que os alunos de modo em geral pudessem adquirir conhecimentos.

O conhecimento não é algo dado ao aluno, pois é o próprio aluno que se constrói diante do conhecimento. Esta construção se dá por meio de métodos ativos e persuasivos do educador, que levam os alunos a descobrirem o conhecimento. Tais métodos se encontram na maiêutica socrática e na dialética platônica onde essas duas vertentes filosóficas tornam-se úteis ao processo de aprendizagem.

A maiêutica socrática já é por si mesma uma forma persuasiva, que leva o aluno ao despertar do conhecimento, ou seja, é um método que alimenta o discurso do aluno. Esse método faz com que o aluno se torne o próprio pesquisador, de seu próprio conhecimento, alimentando-o assim de forma pura, assegurando-lhe a autonomia.

A dialética platônica segue uma influência socrática, pois trabalha em meio aos diálogos, mas as perguntas presentes nestes diálogos sempre levam o aluno a se perguntar sobre os temas ali discutidos. O trajeto dialético tem o objetivo de fazer com que o uso do intelecto seja constante, assim aquele que faz uso da dialética é capaz de construir em meio sua aprendizagem o conhecimento. O ser humano nunca está pronto e acabado, ele tem que se construir durante sua vida, desta forma o aluno não é um balde vazio, onde se derrama conhecimento, más sim um sujeito que está no plano do vir a ser, ou seja, do torna-se.

Para Vygotsky a cultura fornece ao aluno uma noção dos sistemas simbólicos que são representações daquilo que o aluno conhece como o mundo ideal.

Essa concepção de Vygotsky, leva-nos a pensar na alegoria da caverna de Platão, pois os indivíduos que ali estavam acorrentados conheciam apenas aparências do que chamamos hoje de cultura, sendo que a verdadeira cultura esta fora da caverna, ou seja, a realidade que o aluno é capaz de conhecer, se dá de forma real, através do conhecimento puro.

Os dois movimentos dialéticos de Platão são de suma importância para educação, sendo que Platão demonstra uma forma de se auto-educar, tanto pela busca de idéia a idéia até chegar ao conhecimento, como partido do conhecimento já adquirido para buscar o conhecimento do todo.

A dialética tem como objetivo fazer o uso da linguagem. Através de conceitos colocados pelo próprio discurso ali junto ao dialogo.

Vygotsky ao dizer que a linguagem fornece conceitos, as formas de organização do real, leva-nos a pensar o conceito platônico de educação, que não se da apenas por símbolos mais por idéias que nos permite ir alem daquilo que se coloca como realidade, ou seja, pensar o que tem por traz do que chamamos de real.

Portanto, quando pensamos as questões educacionais, tanto em Platão, como em Vygotsky, temos que pensar uma didática própria para ajudar o aluno a desenvolver sua capacidade de aprender através de si mesmo, pois não se ensina nada a ninguém, apenas ajudamos a descobrir o caminho do conhecimento, assim torna-se necessário se libertar dos grilhões culturais da educação e da própria cultura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

JAEGER, Werner. Paidéia: A formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

MARTINS, Pura Lúcia Oliver. Didática Teórica / Didática Pratica: para alem do confronto. São Paulo: Edições Loyola, 1989.

MORIN, Edgar. A cabeça Bem – Feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 12. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um progresso sócio – histórico. 2. ed. São Paulo: Editora Scipione, 1995.

OZMON, Howard A. CRAVER, Samuel M. Fundamentos filosóficos da educação. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

PLATÃO. Platão: A Republica. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

REALE, Giovanni. História da Filosofia antiga: volume 2: Platão e Aristóteles. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2002.

TEIXEIRA, Evilázio. A educação do homem segundo Platão. São Paulo: Paulus, 1999.

VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

2 comentários:

  1. Parabéns prof. Rodrigo pelo seu trabalho filosófico, me ajudou muito nesse meu início de faculdade, obrigado.

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  2. Acabei de lhe conhecer professor !Primeiro semestre Matemática e segunda aula me propus a ir em busca de novos horizontes novos pensamentos e me deparei contigo, estou feliz em poder tirar proveito de tal artigo filosófico, Certeza que estarei bem acompanhada nesta jornada...Obrigada Abraços ...Tutty Nunes

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