Definição da metafísica:
Aristóteles nunca utilizou esta palavra, mas escreveu sobre temas relacionados à physis e sobre temas relacionados à ética e à política, entre outros semelhantes. Andrônico, ao organizar os escritos de Aristóteles, o fez de forma que, espacialmente, aqueles que tratavam de temas relacionados à physis viessem antes dos outros. Assim, eles vinham depois da física (Metha = depois, além; Physis = física). Neste sentido, a metafísica é algo intocável, que só existe no mundo das idéias.
Assim, conscientemente ou não, Andrônico organizou os escritos de forma análoga à classificação dos dois temas. Ética, política, etc., são assuntos que não tratam de seres físicos, mas de seres não-físicos existentes apesar da sua imaterialidade.
Em resumo, a Metafísica trata de problemas sobre o propósito e a origem da existência e dos seres. Especulação em torno dos primeiros princípios e das causas primeiras do ser. Muitas vezes ela é vista como parte da Filosofia, outras, se confunde com ela.
O conceito de metafísica em Aristóteles é extremamente complexo e não há uma definição única. O filósofo deu quatro definições para metafísica:
- a ciência que indaga causas e princípios;
- a ciência que indaga o ser enquanto ser;
- a ciência que investiga a substância;
- a ciência que investiga a substância supra-sensível.
As 4 causas aristotélicas:
O título Metafísica resultou da ordenação dos livros após aos da Física, de acordo com a disposição dada por Andrônico de Rodes, no primeiro século a.C. O tratado é composto de 14 livros.
Na metafísica, Aristóteles definiu as quatro causas, explicada aqui em termos gerais:
- Causa formal - É a forma ou essência das coisas.
- Causa material - É a matéria de que é feita uma coisa.
- Causa eficiente - É a origem das coisas.
- Causa final - É a razão de algo existir.
O ser e seus significados:
O objeto de investigação da Metafísica não é qualquer ser, mas do ser enquanto ser e sobre as coisas que pertencem ao ser tomado em si próprio. Esta investigação induz à elaboração de uma ciência suprema, superior a todas as outras, dado que nela extrai o conhecimento dos princípios e das causas supremas. As outras ciências lidam com um tipo particular de ser, mas a metafísica o Ser universal.
Para Aristóteles o ser não tem apenas um significado mais múltiplos significados.
Tudo aquilo que não é um puro nada, encontra-se na esfera do Ser, tanto no mundo sensível quanto no inteligível.
Divisões do Ser:
Substancia ou essência,Qualidade, Quantidade, Relação, Ação ou Agir, Paixão ou Sofrer, Onde ou Lugar, Quanto ou Tempo, Ter, Fazer.
Somente a primeira categoria (o ser em si) tem uma substancia autônoma, enquanto todas as outra s pressupõe a primeira e baseiam no ser da primeira, a qualidade e a quantidade são sempre de uma substancia, as relações são entre substancias e assim por diante.
O problema relativo a substancia:
Aristóteles igualmente tratou de fazer uma análise de como funciona essa realidade, de como é a realidade. Por exemplo, as distinções que empregamos o tempo todo, não já em filosofia, mas na nossa vida cotidiana: somos aristotélicos numa proporção incrível. A idéia de matéria e forma, hýle e morphe, que parece que se aplica a tudo, são conceitos aristotélicos, que são introduzidos justamente para analisar em que consiste uma substância, o que é uma substância.
Por exemplo, as duas palavras dýnamis e enérgeia. Dýnamis é: possibilidade, potência. Enérgeia é energia: e é curioso que depois foi equiparada ao dinâmico, à dýnamis. Mas em Aristóteles são opostos. Os latinos chamaram de actus a enérgeia; actus, ou seja, atualidade, plena realidade, não potência, não mera potência, não mera possibilidade. Aristóteles interpretará o movimento como a atualidade do possível, ou seja, a atualização da dýnamis, que a dýnamis passe a ser enérgeia. Os conceitos de prática e teoria, que empregamos a todo tempo. Em Aristóteles se distingue a poíesis, que é a fabricação, a produção, tanto faz produzir uma mesa ou um soneto, produz-se algo e neste sentido se é poeta. Mas por outra parte, há o conceito de praxis, que é a ação, o que se age.
A substancia, ato e potencia:
Todas as coisas são em potência e ato. Uma coisa em potência é uma coisa que tende a ser outra, como uma semente (uma árvore em potência). Uma coisa em ato é algo que já está realizado, como uma árvore (uma semente em ato). É interessante notar que todas as coisas, mesmo em ato, também são em potência (pois uma árvore - uma semente em ato - também é uma folha de papel ou uma mesa em potência). A única coisa totalmente em ato é o Ato Puro, que Aristóteles identifica com o Bem. Esse Ato não é nada em potência, nem é a realização de potência alguma. Ele é sempre igual a si mesmo, e não é um antecedente de coisa alguma. Desse conceito Tomás de Aquino derivou sua noção de Deus em que Deus seria "ato puro".
Um ser em potência só pode tornar-se um ser em ato mediante algum movimento. O movimento vai sempre da potência ao ato, da privação à posse. É por isso que o movimento pode ser definido como ato de um ser em potência enquanto está em potência.
Aristóteles distingue, também, a essência e os acidentes em alguma coisa.
A essência é algo sem o qual aquilo não pode ser o que é; é o que dá identidade a um ser, e sem a qual aquele ser não pode ser reconhecido como sendo ele mesmo (por exemplo: um livro sem nenhum tipo de letras não pode ser considerado um livro, pois o fato de ter letras é o que permite-o ser identificado como "livro" e não como "caderno" ou meramente "papel em branco").
O acidente é algo que pode ser inerente ou não ao ser, mas que, mesmo assim, não descaracteriza-se o ser por sua falta (o tamanho de uma flor, por exemplo, é um acidente, pois uma flor grande não deixará de ser flor por ser grande; a sua cor, também, pois, por mais que uma flor tenha que ter, necessariamente, alguma cor, ainda assim tal característica não faz de uma flor o que ela é).
A substancia supra sensivel:
A metafísica consiste na ciência do supra-sensível e do universal, enquanto “anterior” e/ou “superior” à física. Logo, a causa e o princípio primeiro do Ser são divinos. As ciências que estudam as essências das substâncias, suas causas, em particular: que lhes deu forma, composição, finalidade ou origem são necessárias e não suficientes. A ciência que estuda a unidade, verdade universal consiste na ciência primeira e suprema:
“Esta (isto é, a sapiência metafísica), de fato, entre todas (as ciências), é a mais divina e a mais digna de honra. Mas uma ciência só pode ser divina nos dois sentidos seguintes: (a) ou porque ela é ciência que Deus possui em grau supremo, (b) ou porque ela tem por objeto as coisas divinas. Ora, só a sapiência (isto é, a metafísica) possui essas duas características. De fato, é convicção comum a todos que Deus seja uma causa e um princípio e, também, que Deus, exclusivamente ou sem sumo grau tenha esse tipo de ciência. Todas as outras ciências serão mais necessárias do que esta, mas nenhuma lhe será superior.“
Mas se o theos, que consiste no ser supremo, forma pura e sem matéria, perfeito, eterno, divino é o objeto de estudo da metafísica, então a metafísica estaria relacionada com as coisas divinas, estaria acima do físico e por isso supra-senvivel.
O theos opera como causa final recursivamente eterna, e ainda atrai o amor dos seres que o conhece em parte, sendo por isso ser supremo. Ele, portanto, é necessário, existe de um único modo e não pode ser de outro. Dessa forma, o theos é ativo, ao contrário de nós, como os outros seres, que por serem passíveis, corruptíveis, buscam e amam essa essência perfeita, tentando minimizar a potência e tentando chegar ao ato puro.
Mas se o theos não conhece a corrupção dos outros seres, a ciência que o estuda é a ciência do conhecimento totalmente perfeito. Desse modo, a metafísica, enquanto filosofia primeira, não seria tanto uma ciência daquilo que existe, mas antes uma ciência da predicação verdadeira.
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