quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Ética a Nicômaco

Livro VI – As virtudes Dianoéticas

Parte 1

Deve –se preferir meio termo e não o excesso ou a falta. O meio termo é determinado pelos ditantes da reta razão. Em que há uma meta certa a visar no qual o homem, orientado pela razão, fixa o olhar, ora intensificando, ora relaxando, a sua atividade no sentido de adotar o meio termo e há um padrão que determina o estado mediano que dissemos meio termo entre o excesso e a falta, que estão em conformidade com a reta razão. A afirmação é verdadeira, e não e de maneira alguma evidente. No entanto, se um homem possuísse apenas esse conhecimento, não seria mais sábio por isso; por exemplo, ele não saberia que medicamento aplicar ao nosso corpo apenas porque lhe disseram que usasse tudo que arte médica prescreve ou que está de acordo com a prática de quem possuem a arte. Por isso é necessário, com relação às disposições da alma, não só que se faça essa afirmação, como também que se defina o que a justa regra e qual são padrão que a determina.

As virtudes da alma são divididas, algumas são virtudes do Caráter e outras do intelecto, posteriormente discutiremos as virtudes morais.

Observações acerca da alma:

Anteriormente dissemos que alma tem duas partes a que concebe uma regra ou principio racional e a privada de razão. Façamos agora uma distinção semelhante no interior da primeira, admitimos que sejam duas as partes racionais; uma pela qual contemplamos as coisas cujas causas determinantes são invariáveis, e outra pela qual contemplamos as coisas passiveis de variação.Com efeito, quando dois objetos diferem em espécie, as partes da alma que correspondem a cada uma delas também diferem em espécie, uma vez que é por uma semelhança e afinidade com os seus objetos que elas os conhecem. Uma dessas partes pode ser chamada científica, e calculativa, a outra; deliberar e calcular são a mesma coisa. Mas ninguém delibera sobre coisas invariáveis Portanto a calculativa é uma parte da faculdade da alma que concebe sem principio racional. Devemos então, procurar saber qual é o melhor estado de cada uma dessas duas partes, pois nela reside a virtude de cada uma.

Parte 2

A virtude de algo se relaciona com o seu funcionamento apropriado, e são três os elementos da alma que controlam a ação, a verdade, sensação, a razão e o desejo.

A sensação não é o principio de qualquer ação refletida, ex. os animais possuem sensações, mas não agem refletidamente.

A afirmação e a negação no raciocínio correspondem à busca e a replica na esfera do desejo. Por isso a virtude moral é uma disposição de caráter relacionado com a escolha, que um desejo deliberado, para que a escolha seja acertada deve ser verdadeiro o raciocínio e o reto, o desejo, e este ultimo deve buscar o que primeiro determina.

Este tipo de pensamento é de natureza prática. Quanto ao intelecto contemplativo que não é prático, nem produtivo, o bom e o mau estado são respectivamente a verdade e a falsidade. Esta é a função da parte racional do homem, ao passo que a parte prática e intelectual, o bom estado é a concordância da verdade com o reto desejo.

A origem da ação (sua causa eficiente, não final) é a escolha e a origem da escolha, é o desejo e o raciocínio dirigido a algum fim. A escolha não existe sem razão e o intelecto, nem sem uma disposição moral, pois as boas e às más ações não existem sem combinação de intelecto e caráter.

O intelecto por si não move coisa alguma, mas o intelecto prático visa algum fim e o pode fazer. O mesmo se aplica ao intelecto produtivo, quando se faz alguma coisa faz com vista a algum fim e a coisa produzida não é uma finalidade de uma operação particular. É apenas o que se pratica, que é um fim irrestrito, pois a boa ação é um fim no qual visa o desejo.

A escolha, por conseguinte, ou é raciocínio desiderativo, ou desejo racionativo, e a origem de uma ação desse tipo é um homem. Observa-se que nada que é passado não é objeto de escolha. Ex: Saque de Tróia.

Assim, a função de ambas as partes intelectuais da alma é a verdade. Em conseqüência, as virtudes destas partes, serão aquelas disposições segundo as quais cada uma delas alcançará a verdade em mais alto grau.

Parte 3

Há cinco disposições para Alma, sendo ela verdadeira afirmando ou negando: A arte do conhecimento cientifico, a sabedoria prática, a sabedoria filosófica, a razão intuitiva (deixando o juízo e a opinião).

Conhecimento cientifico: quando são meras analogias. Tudo que se conhece cientificamente não podemos ter certeza se existe ou não. O objeto de conhecimento cientifico, portanto existe necessariamente, por conseqüência, ele é eterno, pois todas as coisas cuja existência é necessário no sentido absoluto do termo são eternas.

Toda ciência pode ser ensinada e o seu objeto pode ser aprendido. O ensino procede por indução ou silogismo.

Indução – Ponto de partida que o próprio conhecimento universal pressupõe.

Silogismo - Procede dos universais.

Portanto há pontos de partidas de onde procede ao silogismo e que não são alcançados por este, logo, é por indução que atingimos.

A ciência é um hábito demonstrativo com todas as outras determinações, que nos Analíticos ajuntamos. Então a pessoa sabe verdadeiramente quando tem certas de certas convicções determinadas, e o conhecimento dos princípios. Porque, se estes não lhe são mais conhecidos do que a conclusão, ele não terá a ciência se não acidentalmente.

É da ciência que se determina às coisas.

Parte 4- a arte

Classe das coisas variáveis, nos quais as coisas produzidas e as coisas praticadas se diferem, pois o agir e o produzir são diferentes.

Produzir e agir não se incluem uma na outra. Porque nem agir é produzir e nem produzir é agir. Ex. A arquitetura é uma arte, capacidade racionada de produzir. A arte é idêntica a uma capacidade de produzir envolvendo o reto raciocínio.

Toda arte relaciona-se a criação e ocupa-se em inventar e em estudar as maneiras de produzir alguma coisa que pode existir ou não, a origem está em que produz e não no que é produzido.

A diferença entre produzir e agir, a arte deve ser uma questão de produzir e não de agir; e de certa maneira, o acaso e a arte versam sobre os mesmos objetos.

Assim, como já dissemos, a arte é uma disposição relacionada com o produzir, que envolve o reto raciocínio, e a carência de arte, pelo contrário, é também uma disposição relacionada com o produzir, porém envolvendo o falso raciocínio. E ambas dizem respeito às coisas que pode ser de outro modo.

Parte 5-A sabedoria

A definição se dá a partir dos homens sábios dotados dessa virtude. A sua característica é a prática de ser capaz de deliberar bem acerca do que é bom e conveniente para ele, não sob aspecto particular. Aos que contribuem para vida boa de algum modo. Atribuímos a sabedoria prática a um homem, sob um aspecto particular, quando calculou o bem visando alguma finalidade boa, que não está entre aquelas que são objeto de alguma arte.

Em sentido geral a pessoa que delibera tem sabedoria pratica. Ninguém delibera sob o impossível. Portanto com o conhecimento cientifico envolve demonstração, não há demonstração em que os primeiros princípios são variáveis.(porque elas poderiam ser de outro modo) e é impossível deliberar sobre as coisas que são por necessidade, a sabedoria prática, não pode ser ciência nem arte. Não pode ser ciência, porque aquilo que se refere às ações pode ser de outro modo; nem arte, porque agir e produzir são coisas diferentes. A alternativa que resta seria ela uma capacidade verdadeira e racionada de agir no tocante às coisas que são boas ou más. Com efeito, enquanto produzir tem uma finalidade diferente do próprio ato de produzir, e diferente do agir, pois a finalidade da ação está na própria ação. Ex: “Péricles e os homens como ele, são todos dotados de sabedoria na pratica, porque podem ver o que é bom para si mesmos e os homens da cidade, estes podem ser bons administradores de suas casas e de cidades”. Empregamos o termo temperança “(Sophorosyne)”, submetendo que ele preserva nossa sabedoria (sózusa temphrônesis) e a convicção ou juízo quanto ao nosso bem, pois o prazer e o sofrimento não destroem todas as convicções. As causas que se originam as ações estão nos fins visados, mas as pessoas pervertidas pelo prazer e pela dor perdem em vistas essas causas – pois o vicio anula a causa que deu origem à ação.

A sabedoria prática – capacidade verdadeira e racionada de agir no que diz respeito às ações relacionadas com os bens humanos. A excelência não há na sabedoria prática, na arte é preferível a pessoa que erra voluntariamente, ao passo que na sabedoria prática ocorre o contrario.

A sabedoria prática não é arte, e sim virtude. Como nas duas partes da alma se guiam pelo raciocínio, uma das duas é a virtude que forma opiniões, se relaciona com a sabedoria pratica, pois ela é variável. Ela é uma simples disposição racional, e isso é evidenciado pelo fato de que se pode deixar de usar uma faculdade racional, mas não a sabedoria prática.

Parte 6- A inteligência

O juízo acerca das coisas universais e necessárias, e tanto as conclusões da demonstração como o conhecimento cientifico são derivados dos primeiros princípios (pois ciência envolve apreensão de uma base racional). Assim o primeiro principio, de que deriva o que é cientificamente conhecido não pode ser objeto de ciência, nem de arte, nem de sabedoria prática, pois aquilo que pode ser cientificamente conhecido pode ser demonstrado, ao passo que a arte e a sabedoria prática tratam de coisas variáveis. Tampouco esses primeiros princípios são objetos de sabedoria filosófica, pois é característica do filosofo buscar demonstração de certas coisas.

As disposições da alma pelas quais possuímos a verdade e pelas quais jamais nos enganamos a respeito de coisas invariáveis, ou mesmo variáveis, são o conhecimento cientifico, a sabedoria prática, a sabedoria filosófica e a razão intuitiva, e se a disposição da alma pela qual aprendemos as primeiras causas e não pode ser nenhuma das três primeiras (isto é, o conhecimento cientifico, a sabedoria prática e a sabedoria filosófica), resta somente uma alternativa, a saber, que é a razão intuitiva que aprende os primeiros princípios.

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