sábado, 17 de julho de 2010

Platão

Platão: (427 a 347 a.C.)

* Discípulo de Sócrates

* Escritos em forma de diálogos, nos quais as idéias mais importantes são enunciadas pelo personagem “Sócrates”. (dificuldade de separar o Sócrates real do personagem platônico)

* Teoria do conhecimento:

* Dois tipos de conhecimento: sensível (sentidos, corpo) e intelectual (intelecto, alma).

* A realidade material, que pode ser conhecida com os sentidos leva a um conhecimento equivocado. Além dos enganos dos sentidos, também a realidade física é apenas cópia imperfeita da verdadeira realidade.

* A verdadeira realidade situa-se no mundo das Idéias (ou Formas) e só pode ser conhecida através da alma. Mas como a alma, antes de se encarnar “morava” no mundo das idéias, ela já as conhecia. O problema é que, ao se encarnar, “esquece” dessas verdades e passa a tentar conhecer através dos sentidos (que enganam), as coisas materiais (que são apenas cópias imperfeitas) – Mito da Caverna.

* O verdadeiro conhecimento é reminiscência: conhecer é lembrar-se.

* Hierarquia no mundo das idéias de Bem, Beleza e Verdade.

* Chegar ao conhecimento da verdade é conhecer também o bem e a beleza. E conhecer é agir. Ou seja: Quem conhece o bem pratica o bem.

Mito da Caverna

Imaginemos Homens que viviam numa caverna cuja entrada recebesse a luz do sol, e que estivesse um amplo saguão de acesso, Imaginemos que os habitantes dessa caverna tenham suas pernas e o pescoço amarrados de tal modo que não possam mudar de posição e tenham de olhar apenas para o fundo da caverna, e assim vendo apenas as sobras refletidas na parede. Imaginemos ainda que, imediatamente á frente da caverna, exista um muro da altura de um homem e que, por trás desse muro ficam os homens escondidos inteiramente por ele.

E por esse acesso tenham um caminho que muitas pessoas usam para transportar seus utencilios, homens carregando sobre seus ombros estátuas trabalhadas em madeira e em pedras, representando os mais diversos tipos de coisas. Imaginemos também que, por traz desses homens, esteja acesa uma grande fogueira e que, no alto, brilhe o sol. Finalmente, imaginemos que a caverna produza um eco e que os homens que passam por trás do muro estejam falando de modo que suas vozes ecoem no fundo da caverna.

Se isso acontecesse, aqueles prisioneiros da caverna nada poderiam ver além de pequenas estátuas projetadas no fundo da caverna e ouviriam apenas um eco das vozes. Entretanto, acreditariam, por nunca terem visto coisa diferente, que aquelas sombras eram a única e verdadeira realidade e que o eco das vozes representasse as vozes emitidas por aquelas sobras.

Suponhamos agora, que um daqueles prisioneiros consiga desvencilhar-se dos grilhões que o aprisionam. Com dificuldade, ele se habituaria á nova visão com a qual se deparava. Habituando-se, porem varias estatuetas moverem-se por sobre o muro e compreenderia que elas são muito mais verdadeiras do que as coisas que antes via e que agora lhe parecem sobras. Suponhamos que alguém traga nosso prisioneiro para fora da caverna e do outro lado do muro.

Primeiramente, ele ficaria ofuscado pelo excesso de luz; depois, habituando-se, veria as coisas em si mesmas; e por último, veria inicialmente de forma reflexa e posteriormente em si mesma, a própria luz do sol. Compreenderia, então, que estas e somente estas são as realidades verdadeiras e que o sol é a causa de todas as coisas visíveis.


Platão e o Mundo do Outro

(extraído de: ABRÃO, Bernadette Siqueira. História da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, p. 46 a 53)

Platão (428-347 a.C.), o mais importante conti­nuador da obra de Sócrates, é quem dá à filosofia a sua primeira grande sistematização. Desde as investiga­ções dos filósofos pioneiros, sobre o princípio do mundo, ou as exigências lógicas de Parmênides e Zenão, e os impasses a respeito do movimento e da pluralidade das coisas, até as questões sobre os valores humanos (formuladas, de um lado, pelos sofistas e, de outro, por Sócrates), passando pelos rigorosos estudos matemáti­cos dos pitagóricos, todos esses aspectos, que constituí­ram os temas do pensamento ocidental, encontram-se não apenas sintetizados, mas também colocados em novos termos, por Platão.

Para Platão, a vida de Atenas é a prova viva do que mostrava Sócrates ao denunciar, com suas pergun­tas, o falso saber dos homens, sobretudo no que se refere aos valores humanos. Como Platão mesmo afir­ma numa carta autobiográfica (Carta VII), a política ateniense, que se orgulhava de ter um governo o mais justo, degenerava de injustiça em injustiça. "A legisla­ção e a moralidade estavam a tal ponto corrompidas que eu, antes cheio de ardor para trabalhar para o bem público, considerando essa situação e vendo que tudo rumava à deriva, acabei por ficar aturdido", escreveu. A condenação e a morte de Sócrates em (399 a.C) resu­mem esse estado de coisas.

Desiludido, Platão abandona o ideal de participa­ção política alimentado desde a juventude: "Fui então irresistivelmente levado a louvar a verdadeira filosofia e a proclamar que somente à sua luz se pode reconhe­cer onde está a justiça na vida pública e na vida privada". Compra então uma propriedade (a Acade­mos) nos arredores de Atenas e ali funda, por volta de (387 a.C.), uma escola, a Academia, onde desenvolve seus estudos.

A Academia não é uma instituição escolar no sen­tido moderno. É antes uma espécie de irmandade, com certas conotações religiosas, em que se discute livre­mente a respeito de temas como matemática, música e astronomia, além de questões propriamente filosóficas. Na entrada, um lema indica a inspiração pitagórica: "Não entre quem não saiba geometria".

Pela dialética, a “theoría”

Platão faz da crise política da cidade um tema de reflexão. Procura um fundamento sólido e inabalável para a conduta humana, pois as ações não se justificam por si mesmas, nem as opiniões, ligadas a essas ações. E preciso afastar-se da vida prática dos homens, des­viando o olhar para um outro lugar onde se possa encontrar a Verdade, para fazer dela matéria de con­templação (theoría): o abandono da política significa essa opção radical pela teoria.

Mas, se somente a teoria pode fornecer os critérios firmes para as ações humanas, o que assegura os cri­térios da própria teoria? Só há uma saída: a teoria mesma. Ela, e só ela, pode proporcionar, a cada passo, a sua justificação. Por isso, Platão é levado a desenvol­ver um pensamento sistemático, coerente, sem lacunas e que enfrente com seus recursos todas as dificuldades. Do problema político-moral inicial, a sua indagação vai desdobrar-se em várias direções, todas interligadas.

A possibilidade do conhecimento teórico, que se auto-fundamente e que proclame a sua validade unica­mente pela força de suas demonstrações, é dada pelo método que Platão denomina "dialética". Na origem, esta palavra designava a técnica da discussão, e nesse sentido é a arte cultivada e ensinada pelos sofistas. Mas, para Platão, dialética é outra coisa. Seu modelo são os Diálogos de Sócrates, cujo encadeamento preciso de raciocínios impossibilitava refutações.

Mas Sócrates produzia um saber negativo: levava seus interlocutores a saber que nada sabiam. Platão, ao contrário, quer ir além e produzir um saber positivo. Os Diálogos cumprem esse objetivo. Por meio de afir­mações, e de objeções a elas, vai-se formando um con­senso que não é um mero consentimento, mas uma autêntica unanimidade de pensamento, pois as conclu­sões a que se chega são incontestáveis e não admitem nenhuma outra solução. Desse modo, de passo em passo, o pensamento separa o que é aparente do que é essencial.

A origem das coisas

Em Timeu, Platão supõe a existência de um deus, o Demiurgo ("fabricante" ou "artesão"), que, contem­plando a beleza das idéias já existentes, não pôde dei­xar de reproduzi-Ias. Tomou então do material disponível, algo como o Caos inicial da mitologia, e foi modelando, à semelhança das idéias, todos os seres do mundo. A obra é perfeita descontando-se a imper­feição do material empregado.

O conjunto dessa fabricação é o mundo, que no seu todo apresenta uma ordem, e que é como o ser de Parmênides: esférico (a figura mais perfeita), único, li­mitado e, uma vez criado, eterno. No entanto, não se trata do ser parmenideano, que não admitia o não-ser. O nada, antes impensável, muda de significado em Platão: é o Outro, algo que não são as idéias (o Mes­mo), isto é, a própria matéria de que é feito o mundo. É esse Outro que faz com que o mundo seja, em seus aspectos particulares, dominado por variações, plurali­dades, aparências, opiniões e injustiças.

Nesse sentido, Platão, que se retira do mundo instável da política para contemplar as idéias, não o faz por mero amor à teoria. Para ele, essa contemplação, pela qual se conhece o Bem, é condição para retornar ao universo sensível e imperfeito, a fim de moldá-lo, tal qual o Demiurgo, à imagem e semelhança das idéias. Nesse longo percurso, que vai do mundo da injustiça até o Bem e que volta ao mesmo mundo injusto, percurso que ficou conhecido como "dialética ascendente" e "dialética descendente" -, ele teve de abranger praticamente todos os temas que mais tarde nutririam a história da filosofia.

Para encontrar respostas a esses problemas, Platão empreendeu aquilo que ele simbologicamente denominava a “segunda navegação”; na antiga linguagem dos homens do mar, “segunda navegação” se dizia daquela que se realizava quando, cessado o vento não funcionando mais as velas, se recorreria ao remos. Na imagem platônica, a primeira navegação simbolizava o percurso da filosofia realizado sob o impulso do vento da filosofia naturalista. A “segunda navegação” representa, ao contrario, a contribuição pessoal de Platão, a navegação realizada sob o impulso de suas próprias forças, ou seja, em linguagem não metafórica, sua elaboração pessoal. A primeira navegação se revelara fundamentalmente fora de rota, considerando que os filósofos pré-socráticos não conseguiram explicar o sensível através do próprio sensível. Já a “segunda navegação” encontra uma nova rota quando conduz á descoberta do supra-sensível, ou seja, do ser inteligível. Na primeira navegação, o filosofo ainda permanece prisioneiro dos sentidos e do sensível, enquanto, na segunda navegação, Platão tenta a libertação radical dos sentidos e do sensível e deslocamento decidido para o plano do raciocínio puro e do que é captável pelo intelecto e pela mente na pureza de sua atividade especifica.

As aparências e as Idéias

A "verdadeira filosofia", proclamada por Platão, recusa a solução dos sofistas, para os quais a justiça e a injustiça não passam de convenções. Sócrates já havia apontado um caminho diferente: uma e outra confun­dem-se porque os homens não sabem verdadeiramente o que é a justiça, isto é, não conhecem a sua essência.

Ao contrário, permanecem no nível das aparências, que são o modo como as coisas aparecem aos homens e o modo como estes as percebem por meio das sensações, dos sentidos. As aparências constituem assim o mundo dos sentidos, o mundo sensível, em que tudo é instável e variável, de acordo com as circunstâncias e os pontos de vista.

Nesse mundo sensível, cada um se apega a um aspecto das aparências e o transforma em sua certeza, em sua "verdade". E, como cada um percebe o mundo de maneira diferente, as opiniões que disso resultam também são variadas e divergentes. Além disso, é co­mum que as opiniões ocultem interesses pessoais. Por tudo isso, a opinião (doxa) jamais pode proporcionar o verdadeiro conhecimento das essências, que é a ciência (episteme).

É possível obter esse conhecimento das essências, que ultrapassa o nível da opinião? Sim, com uma con­dição: a de que essas essências existam. Que elas exis­tem é um fato, e a geometria fornece exemplos. Afinal, esta ciência trabalha com figuras perfeitas. Exemplo: (triângulos, círculos), que se encontram no mundo sensível que nos cerca. E, mesmo fora do âmbito da geometria, percebe­mos, por meio dos sentidos, uma diversidade de pássaros, de diferentes tamanhos e cores, jamais nos enganamos sobre eles: são todos pássaros. Assim tam­bém é a justiça, em nome da qual se faz tanta contro­vérsia. Há algo que mesmo intuitivamente se pode reconhecer como justo. É preciso então que haja a essência das figuras geométricas, do pássaros há justiça.

Platão denomina essas essências de “eidos”, palavra que pode ser traduzida por idéia ou forma. Assim, se no mundo sensível há vários pássaros diferentes, existe, por outro lado, uma única idéia de Pássaros. E, para os diferentes círculos que percebemos, há uma só idéia de Círculo. A pluralidade das coisas e as mudanças são próprias do mundo sensível; cada idéia, ao contrário, é única e imutável, existindo verdadeiramente, e não ape­nas no sentido ideal, tal como hoje comumente o en­tendemos. Assim, o mundo supra-sensível ou inteligível existe de forma anterior e mais efetiva do que o mundo sensível. É ele o verdadeiro mundo real.

A Verdade, plena de luz

Esses dois mundos, segundo Platão, embora sepa­rados, estão relacionados num sentido preciso: as coisas sensíveis imitam as idéias que lhes correspondem, do mesmo modo como um pintor imita em seu quadro a natureza. Como imitação, as coisas sensíveis são sempre imperfeitas, e isso explica por que o mundo sensível é variado e sempre em mutação.

Mas é também por essa relação de imitação que os homens, situados no mundo sensível, podem conhe­cer as idéias, como quem se lembra do modelo de que foi tirada a cópia. Conhecer é assim reconhecer, lem­brar-se das idéias que foram contempladas pela alma, mas esquecidas por causa do apego do corpo às coisas sensíveis. A alma possui essa capacidade de reconhecer as idéias porque de certo modo participa do mundo inteligível: como as idéias, ela é imaterial, incorpórea e impalpável, constituindo um elo de ligação que ainda mantemos com o inteligível.

Por fim, o despertar da alma para o mundo inte­ligível faz-se por um sentimento, que é o amor. Inicial­mente, o amor é carnal e deseja um corpo belo, mas, aos poucos, passa a desejar a própria Beleza e o co­nhecimento da sua idéia. E o que pode haver de mais belo para o intelecto senão a Verdade?

O amor que deseja a Verdade é a própria filoso­fia (literalmente, "amor ao saber"). Platão ilustra os passos desse amor que deseja conhecer por meio da célebre alegoria da caverna, que abre o Livro VII de “A República”.

Segundo essa alegoria, o mundo sensível é como uma caverna em que os homens se encontram acorren­tados de tal modo que só podem olhar para as paredes escuras. Atrás deles há uma fogueira cuja luz projeta na parede sombras obscuras - a única realidade, para esses homens. Mas um deles consegue escapar. Fora da caverna, a intensa luz do Sol ofusca-lhe a visão. Os olhos, porém, acostumam-se à claridade e ele vê a verdadeira e bela realidade: o mundo inteligível. Mara­vilhado, não pode deixar de voltar à caverna, a fim de comunicar aos companheiros a sua descoberta. Mas eles não o compreendem. Riem e, depois, matam-no.

O filósofo que chega à verdadeira realidade tem uma missão: a de voltar à caverna, ao mundo sensível dos homens, mesmo que ali seja incompreendido. Afi­nal, viu a luz do Sol que ilumina toda a realidade; a luz que, ao possibilitar o conhecimento, proporciona também o conhecimento de como os homens devem agir. Conhecer, para Platão, é conhecer o Bem, a Idéia suprema que, como o Sol, ilumina as demais idéias, tornando-as compreensíveis.

Conhecer o Bem significa que finalmente é possível organizar a cidade não mais segundo as opiniões, mas tendo como base o verdadeiro conhecimento. Este mos­tra que a cidade depende de três funções: a satisfação das necessidades básicas dos habitantes, a defesa do território e, por fim, a administração. A população, por isso, deve ser dividida nessas funções, segundo a apti­dão de cada um: uns serão agricultores e artesãos; outros, guerreiros e guardiães da cidade. Aqueles, por fim, que se destacarem nos diversos níveis progressivos de educação pelo verdadeiro conhecimento, devem di­rigir a cidade. Por isso, diz Platão, na Carta VII: “Os males não cessarão para os homens antes que a raça dos puros e autênticos filósofos chegue ao poder”. Uma conclusão talvez drástica mas inevitável para que foi levado à filosofia pelo desencanto com a política cega dos homens.

Nenhum comentário:

Postar um comentário