sábado, 17 de julho de 2010

Os Pré - Socráticos

Tales: tudo começa na água

Tales, nascido em Mileto, é considerado, pela tra­dição clássica, o primeiro filósofo. Viveu provavelmente entre o final do século VII e meados do século VI a.C. Matemático e astrônomo, previu o eclipse do Sol de 585 a.C. Diz-se que, distraído, teria caído num poço quando contemplava os astros. Mas comenta-se, tam­bém, que foi um hábil negociante, e que prosperou muito por causa da astúcia.

De seu pensamento só ficaram interpretações for­muladas por outros filósofos, que lhe atribuíram uma idéia básica: a de que tudo se origina da água. A “physis”, então, teria como único princípio esse elemento natural, presente em tudo.

Segundo Tales, a água, ao se resfriar, torna-se densa e dá origem há terra; ao se aquecer transforma-se em vapor e ar, que retornam como chuva quando novamente esfriados. Desse ciclo (vapor, chuva, rio, mar, terra) nascem as diversas for­mas de vida, vegetal, mineral e animal.

Não há dúvida de que esse pensamento logo es­barra em dificuldades. O que são, por exemplo, o calor e o frio de que depende o movimento da água, se é esta a origem única de todas as coisas? A busca da “arkhé” um princípio único, conflita com outras forças que, por sua vez, precisam ser enquadradas em um princípio diferente.

Essa dificuldade não é exclusiva de Tales; é da própria filosofia, que se desenvolve tentan­do resolvê-la. Se Tales aparece como o iniciador da filosofia, é porque seu esforço em buscar o princípio único da explicação do mundo não só constituiu o ideal mesmo da filosofia como também forneceu-lhe o im­pulso para desenvolver-se.

Anaximandro: indeterminado e eterno

Contemporâneo de Tales, Anaximandro procura um caminho diferente. Para ele, o princípio da “physis” é o “ápeiron”, que pode ser traduzido como “indeterminado ou ilimitado”. Eterno, o ápeiron está em constante movi­mento, e disso resulta uma série de pares opostos, água, fogo, frio e calor que constituem o mundo. O ápeiron é desse modo, algo abstrato, que não se fixa diretamente em nenhum elemento palpável da nature­za. Com essa concepção, Anaximandro prossegue na mesma linha de Tales, porém dando um passo a mais na direção da independência do "princípio" em relação às coisas particulares.

Anaxímenes: o ar comanda a vida

O meio-termo entre Tales e Anaximandro é repre­sentado por Anaxímenes, que viveu em meados do século VI a.C. Segundo ele, a arkhé que comanda o mundo é o ar, um elemento não tão abstrato como o ápeiron, nem palpável demais como a água. Tudo pro­vém do ar, através de seus movimentos: o ar é respi­ração e é vida; o fogo é o ar rarefeito; a água, a terra, a pedra são formas cada vez mais condensadas de ar. Tudo o que existe, mesmo apresentando qualidades diferentes, reduz-se a variações quantitativas (mais raro, mais denso) desse único elemento.

Heráclito: tudo é um

Heráclito (540-480 a.C.) transforma em solução o que aos outros era problema. Para ele, o mundo expli­ca-se não apesar das mudanças de seus aspectos, mui­tas vezes contraditórios, mas exatamente por causa des­sas mudanças e contradições. Por isso, em um de seus fragmentos, diz: "O combate é de todas as coisas o pai, de todas o rei". Em outras palavras, todas as coisas opõem-se umas às outras, e dessa tensão resulta a unidade do mundo.

Essa oposição, esse combate, é uma guerra, e não, como pretendia Anaximandro, o equilíbrio de forças iguais. Tampouco é a harmonia dos contrários assegu­rada, como no entender dos pitagóricos, pela justa me­dida imposta por um ente supremo. Para Heráclito, a harmonia nasce da própria oposição: "O divergente consigo mesmo concorda; harmonia de tensões contrá­rias, como de arco e lira".

A divergência e a contradição não só produzem a unidade do mundo, mas também, a sua transformação. O mundo é um eterno fluir, como um rio; “e é impos­sível banhar-se duas vezes na mesma água”. Fluxo contínuo de mudanças, o mundo é como um fogo eterno, sempre vivo, e "nenhum deus, nenhum homem o fez". Mas só se compreende isso quando, ao deixar de lado a "falsa sabedoria" ditada pelos sentidos e pelas opiniões, chega-se ao logos, isto é, ao pensamento “sen­sato”. É o raciocínio adequado que abre as portas para o entendimento do princípio de todas as coisas. "Não de mim, mas do logos tendo ouvido é sábio homologar tudo é um", diz um dos seus aforismos.

Parmênides: o ser e as ilusões

Parmênides (540-450 a.C.), ao contrário de Herá­clito, procura eliminar tudo o que seja variável e con­traditório. Se uma coisa existe, ela é esta coisa e não pode ser outra, muito menos o seu contrário. Uma árvore é uma árvore, o Sol é o Sol, o homem é o homem. Em outras palavras, o ser é o ser, ou resumidamente, o ser é. Segue-se logicamen­te que o não-ser não é, e não pode existir.

Se só o ser existe, o ser deve sempre existir. Deve ser único, imóvel, imutável, sem variações, eterno. Mas o que seriam então as constantes mudanças, as contra­dições e os aspectos diferentes que o mundo apresenta? São ilusões, responde Parmênides; meras aparências produzidas por opiniões enganadoras, não pelo conhe­cimento do verdadeiro ser.

Esse pensamento inaugura a metafísica (por não se contentar com a aparência das coisas e buscar-lhes a essência) e a lógica (o princípio da não-contradição existente no ser, que é, e no não-ser, que não é). Para Parmênides, o mundo dos sentidos, por estar condicio­nado às variações dos fenômenos observados e das sensações, dá origem a incertezas e a opiniões diversas. Por isso, o conhecimento não pode ser alcançado por esse caminho, e sim pela certeza que a razão produz por meios lógicos e dedutivos.

Leucipo e Demócrito: o átomo como princípio

Outra é a concepção de Leucipo, nascido talvez em Mileto, em data desconhecida do século V a.C. e de seu discípulo Demócrito de Abdera (470 á 370 a.C.). Para eles, o mundo é composto de átomos, palavra grega que significa "não divisível". Assim, o átomo é indivisível, mas também imutável, eterno, sempre idên­tico a si mesmo.

E nesse sentido, equivale ao ser de Parmênides. Mas não é único. Os átomos existem em número infinito. A conseqüência disso é que entre um ­átomo e outro existe um algo: um vazio, um nada, um não-ser, repudiado por Parmênides. É nesse vazio que os átomos se movem. Em seu entre choque produzem diversas combinações, e daí resulta a plura­lidade das coisas: o mundo em movimento.

O nascimento, assim, não passa de um agregado de átomos, enquanto a morte é apenas a destruição desse agrupamento. Nos dois casos, cada átomo perma­nece intacto e imutável. Eles se diferenciam, porém, numa série de aspectos, como tamanho, forma, posição. Há átomos grandes e pequenos, redondos e angulosos, em pé ou de lado. Suas combinações também variam: os átomos A e N, por exemplo, podem se reunir como AN ou NA. Essas diferenças tornam-se mais claras num dos fragmentos deixados pelos atomistas: "O sabor amargo é produzido por átomos pequenos, lisos e redondos, cuja atual circunferência é sinuosa, e por isso é viscosa e pegajosa. O sabor ácido é causado por átomos grandes, não-redondos e, às vezes, até angulosos".

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